Pensar um País a Régua e Esquadro (e Nível).
Paula Custódio Reis
«Precisamos de um novo Marquês de Pombal que fizesse ao País o que foi feito em Lisboa»
Depois de uma grande desgraça, temos a oportunidade de, aquando da reconstrução, fazer melhor.
Sebastião de Mello teve esta visão. E conseguiu reconstruir uma Cidade, Capital de um País e de um Império, que é motivo de espanto e orgulho até aos dias de hoje.
Não o fez sozinho. Na base da estátua, que encima a Rotunda de onde saem as artérias principais do coração de Lisboa, constam também os que o aconselharam, acompanharam e orientaram.
Consta até um médico, cristão novo, exilado, natural da Raia Penamacorense. «Dos sítios Mais Sadios para fundar uma Cidade», foi, seguramente, um dos livros base para a reconstrução de Lisboa. Ribeiro Sanches, o autor, sabia bem a diferença da orientação das janelas, ou dos fundamentos básicos da salubridade urbana.
Há quase trezentos anos, com muito menos meios e menos tecnologia, com muito mais força humana e planeamento sábio, reergueu-se uma cidade.
Uma cidade harmoniosa, funcional e pensada para o futuro. Uma cidade que nos orgulha hoje, porque mostra o quanto somos capazes de ser bons a planear, a construir, a projetar.
A questão que fica, é a que subjaz ao nosso eterno Sebastianismo.
Até quando esta espera desoladora, por um herói individual, que nos venho salvar do nosso triste fado.
Quando é que perceberemos que todos os nossos heróis nacionais, só o foram porque tiveram um herói coletivo de base. Um coletivo que não se conformou com uma situação qualquer que se arrastava, que tomou a braços a mudança, porque o que existia já não servia.
Não é o herói individual que falta, é o colectivo que não se apercebe do seu papel.
Do papel de exigir e fazer. De cumprir e fazer cumprir, nos múltiplos papéis que desempenha. E que tenha a sabedoria de continuar a segredar ao ouvido de quem o representa, o que os romanos segredavam aos seu laureados «Tu és só um homem».
Porque a noção da humildade, daqueles cujos papéis é servir o colectivo, é o garante da sua constante evolução, enquanto líderes e enquanto seres humanos.
«Um forte Rei, faz forte a sua fraca gente». Este foi o segredo de Viriato, de Afonso Henriques, do Mestre de Avis, do Infante D. Henrique, de D. Pedro V, de Salgueiro Maia. E acredito que eles, mais do que saberem, sentiam que era assim. Que tinha que ser assim. Que o seu sucesso só o seria, se tivesse por base a vontade pura, daqueles que os acompanhavam.