O valor de uma Rosa
Paula Custódio Reis
Tenho um gosto na vida, que me foi passado pelas gerações anteriores: o de receber. O de acolher e fazer sentir em casa quem é visita.
Percebi, ao longo dos anos, que esta é uma característica Lusa, mais ou menos espalhada pelas regiões, mas que, aqui na Beira, ela é bastante evidente.
Assim, idealizei um projeto. O de fazer do ato de receber, uma atividade.
Tivemos a sorte de encontrar uma casa à medida do nosso gosto, com direito a balcão de pedra e uma horta, onde colher o nosso azeite e alguma fruta.
Chegado à fase das obras, pensamos em conforto, aconchego, no usufruir sempre de uma magnifica vista, que começa no Colégio de S. Fiel, se estende pela fronteira raiana, e pela capital do Concelho, e acaba na Ribeira da Ocreza. E à noite, na ausência de luz que ofusque, que só a Gardunha imaculada nos pode dar, ter a noção da imensidão do Cosmos. E ficar com a certeza da pequenez humana, perante tão grandioso cenário.
No fundo, a intenção é manter e melhorar nesta casa, o que de melhor serviria para alegrar os cinco sentidos humanos.
Daí a história de uma rosa amarela. Esta rosa, a princípio escondida por outro tipo de vegetação, fica num canteiro encostado ao balcão.
Quando vieram tratar da cantaria, pedi encarecidamente, que olhassem por ela. E ela lá continua.
Tenho outras à espera de lhe ir fazer companhia. Mas, esta será sempre especial. Porque tem cheiro. Porque sobreviveu ao tempo de esquecimento. Porque é elo de ligação a uma família que antes ali se constituiu. Porque por ela passaram comemorações e tempos de trabalhos, que criaram memórias em descendentes, a lembrar quem construiu a casa e nela habitou.
Mas também esta rosa me faz ser grata pela paciência e carinho com que foi tratada, num processo que costuma ser de trabalho, azáfama e até atropelo. Pensar que as mãos que sapientemente talharam pedras, foram as mesmas que tiveram paciência para não descurar uma rosa, fez-me ver que também eles sabem valor de uma flor. E sabem-no porque alguém, nas suas casas, as costuma plantar, regar e cuidar. Muitas vezes, eles mesmos.
Ser mestre de uma arte, significa também ser detentor destas singelezas da alma: ser forte com o que é preciso ser forte, sábio para com os obstáculos da vida, sereno em todas as suas atitudes e delicado com o que é frágil.
Esta, para mim, é a prova viva da sabedoria humana. O degrau último que espero alcançar, em permanência.