A cigarra e a formiga
Paula Custódio Reis
«E tu cigarra, o que fizeste durante o verão?
Eu? Eu cantei.
Ai cantaste? Então agora, dança!»
Esta era uma das muitas histórias que nos contavam, quando éramos miúdos, ao serão.
Este é um princípio que as gentes do campo conhecem bem. Por isso, os meses de verão, são meses de muito trabalho: colheitas, conservas, arranjos nas casas e caminhos.
Quando vêm as primeiras chuvas, o tempo é de começar a abrandar o ritmo de trabalho, não esquecendo, pelo meio, o tempo das vindimas e da aguardente. Depois a azeitona. Depois as podas, para que nasça nova e ordenada vida, na Primavera seguinte.
O Estio é tempo de trabalho, até porque o tempo de luz, de sol a sol, é mais longo.
O Inverno é tempo de pousio, para dar tempo à Natureza de fazer acontecer os seus milagres.
Sábias práticas e sábios conhecimentos, os daqueles que sabem adaptar-se aos ciclos da Natureza.
Quando os abandonamos, ficamos à mercê dos elementos, e nem o facto de sermos bons cantores nos servirão de muito: «cantas bem mas não me alegras», diz o povo.
Os sábios Gregos diziam que o homem que pensa, mas que não pratica aquilo que pensa, é como se não pensasse.
Eu, por mim, gosto de ler os grandes pensadores, mas aprecio muito, também, a sabedoria daqueles que prevêm, trabalham e se adaptam aos ciclos da natureza, aos ciclos do tempo, precavendo-se, trabalhando.
Porque música, como chapéus, há muita. E para muitos gostos.